O ESPETÁCULO

“Severinos” é um espetáculo livremente inspirado na obra de João Cabral de Melo Neto – “Morte e Vida Severina” – e apresenta diversos “Severinos” que se revezam e se desdobram para contarem essa história poética, numa jornada de descoberta e dor que transita da morte até a vida.

Essa adaptação de Rita Oliveira traz novos elementos, apresentando logo de início uma trupe de atores “Severinos” que chegam numa embarcação de seca e poeira e desembarcam num cenário árido de fome e miséria, onde sempre se deparam com a morte.

César Póvero traz na direção de arte de “Os Severinos”, homens e mulheres que, através dos seus corpos, com figurinos nas cores do sol (alaranjados, amarelados, dourados, rosáceos), como se estivessem sendo refletidos por ele o tempo todo nesta travessia, iluminam o espetáculo que pode ser realizado em qualquer tipo de espaço, os mesmos trajes são atemporais representando uma trupe de artistas que não regionalizam a dramaturgia a não ser pelo próprio texto, tornando assim o tema tratado mais abrangente, apesar da temporalidade existe uma alma do teatro itinerante medieval nestes corpos, transcendendo esse lado nômade do personagem Severino, assim como os seus desdobramentos.

Uma direção ágil e dinâmica proposta por Rita Oliveira através de tecidos que saem de cestos e balaios criando cenários estilizados e multifacetados estimulando através de cores, texturas e movimentos a imaginação do público, realçando a poesia da obra original.

“Severinos” tem como princípio também rever e reler a obra de maneira mais branda onde a rotina das personagens com suas mazelas não os dilacera a ponto de pesar na dramatização, pois já trazem na pele a conformação de seus destinos com mais conformismo e força.

Porém essa leveza é confirmada e se faz mais suave, pois essa sina Severina de diversas cenas é embalada pelas músicas originais criadas por Jairo Cechin exclusivamente para a montagem, cantadas e tocadas ao vivo, trazendo o conceito de que sempre existe a alegria do desafio e dessa busca “Severina”, onde a vida e a esperança de um novo dia sempre se apresenta com um novo nascimento, uma nova vida que irrompe.